Mais rotinas, menos campanhas!

Sem Campanha o Brasil não lava as mãos.
Luiz Marins

Sem “campanha” o Brasil não anda. Vivemos de campanha em campanha. Para cada problema uma campanha. Termina a campanha e nenhuma rotina se estabelece. O problema retorna. Nova campanha.
Para vacinar o gado, campanha nacional de erradicação da febre aftosa. Para vacinar as crianças, campanha nacional de vacinação. Dia “D” da campanha nacional contra a dengue e até campanha nacional pela ética na política(sic)!

Para o vendedor vender, campanha de incentivo de vendas. Acidentes do trabalho se resolve com SIPATs e campanhas de prevenção de acidentes. A solução para o baixo uso do cinto de segurança? Nova campanha pelo uso do cinto.
Até quando viveremos de campanha? Sem campanha a dengue volta, a aftosa ataca, os operários se acidentam, as crianças morrem.

Quando ficaremos adultos o suficiente para entender que a vida exige rotinas, disciplina, padrões que têm que ser simplesmente mantidos sempre, todos os dias, sem campanha?
Essa nossa indisciplina e indisposição à rotina, ao estabelecimento de padrões e cumprimento de normas está nos infelicitando, a todos, sem exceção. Ninguém ganha com essa nossa pseudo-criatividade onde nada é mantido, seguido.

Temos em todos os lugares e instituições e até em empresas milhares de “agentes de mudança” que se orgulham disso. Mas estamos precisando de “agentes de continuidade”, agentes de cumprimento de rotinas básicas, agentes de consistência e permanência de coisas que simplesmente não devem e não podem mudar.

Essa “cultura de campanha” está fazendo com que ninguém cumpra sua obrigação como um dever ético ou mesmo moral. O vendedor só vende se tiver uma “campanha de incentivos” para vender tal e qual produto. A camareira só limpa a arruma o quarto do hotel se tiver uma campanha de premiação pela melhor camareira. O garçom só faz a barba e toma banho se o restaurante fizer uma “campanha pela boa aparência”. A ausência de cumprimento de rotinas extrapolou para um sistema de quase-corrupção no qual as pessoas só fazem as coisas se forem “incentivadas” por uma campanha ou, talvez, uma forma exótica de propina para que sua “boa vontade” o faça cumprir o que é de sua profissão e, portanto, seu dever.

Vi, atônito, um grande hospital fazer campanha para que médicos e enfermeiras lavem suas mãos, pois só isso diminuiria 30% da infecção hospitalar, dizia o cartaz! Se médicos precisam de campanha para lavar as mãos num hospital, o nosso problema é muito maior do que eu imaginava!

Mais rotina, menos campanha! Ou vamos assistir absurdos ainda maiores como campanhas para que a Polícia cuide da segurança pública; campanha para que professores ensinem seus alunos; campanha para que vigias noturnos mantenham-se acordados durante a noite em seu trabalho; campanha para que juízes julguem com isenção e governantes governem com honestidade.

Pense nisso. Sucesso.
E não “lave as mãos” para mais este problema nacional.