A educação e a disciplina

Apesar do desenvolvimento da ciência, da tecnologia e principalmente da comunicação, parece que certos valores formadores da pessoa humana estão sendo deixados de lado, mais por falta de informação correta a respeito de como educar nos dias de hoje.

Educar significa tirar de dentro, isto é, fornecer os mecanismos aos filhos e alunos para que futuramente sejam pessoas capacitadas a raciocinar e a entender e modificar o mundo e as pessoas com que convivem, para uma vida melhor. Para que isto ocorra temos que ensinar, e ensinar vem de “insignare” que significa colocar no interior um sinal.

Dom Lourenço de Almeida Prado ( Reitor do Colégio São Bento do Rio de Janeiro), coloca alguns pontos para a nossa reflexão e troca de idéias com os familiares e professores. “A mente humana tem riquezas infinitas, mas precisa ser escorvada para que essas riquezas acordem do silêncio. É necessário acreditar e exigir o conteúdo. Disse exigir. Isto é, cobrar corrigir. A escola modernosa está deixando as crianças morrerem de inanição ou a procurarem na droga e no vício a alegria que não obteve pelo esforço solicitado do aprender. A alegria de chegar à verdade está sendo substituída pelo prazer dos movimentos irracionais. O grande problema é a escola ser escola. Como nos adverte Christian de Duve (Lavenir de la Vie, Seghers,1981,pág.147). “Infelizmente, cada vez se educa menos a criança a observar uma disciplina , seja ela física ou intelectual. Deseja-se evitar o esforço, suprimir qualquer medida coercitiva, que certos educadores consideram traumatizantes para a criança. Espero que haja, em breve, uma reação. Pois não se pode aprender a pensar, sem esforço, sem usar meios coercitivos, impostos inicialmente de fora para dentro, até que se tenha aprendido a impor-se por si mesmo, de dentro para fora. Para mim, é daí que vem o irracional, a fraqueza na utilização crítica da razão, a ausência do rigor do pensamento”.

Como podemos notar no texto acima, a disciplina é fundamental para a formação da pessoa humana. Da disciplina nasce o domínio da vontade, tão esquecida hoje. Exigindo da criança uma rotina de atividades, tais como: execução de tarefas domiciliares, horário diário de estudo (estudo mesmo), horário de assistir a televisão, horário de comer, horário de dormir, horário de brincar, organização em geral etc., estamos formando uma disciplina de vida e de domínio da vontade, que são essenciais para o desenvolvimento humano em todos os seus aspectos. Se não formarmos na criança a disciplina e o domínio da vontade, teremos pessoas que não saberão no futuro dizer sim ou não, a qualquer convite indecoroso que deponha contra a pessoa humana. O uso de drogas, os problemas sexuais dos jovens de hoje, muitas vezes, são resultado de uma educação permissiva e sem autoridade racional e madura.

“Por ser fruto de um ideal, acima dos instintos, saber dizer sim aos valores humanos , aos mais altos e aos mais humildes, e não aos desvalores, é algo que exige longa e acurada preparação. Na formação da crença do adolescente deve entrar, de um modo ou de outro, uma educação da sua consciência para que saiba e ouse dizer sim ou dizer não. Creio que o bom êxito na formação moral e espiritual de um jovem se pode facilmente avaliar por este simples resultado concreto ; a quem ou a que ele saiba e ousa dizer não ou dizer sim ? Com que lucidez, determinação e serenidade o faz ? Como os sins ou os nãos que diz lhe marcam a vida ? O Terceiro milênio está pedindo jovens diferentes. Que, ao contrário dos que predominam no após-68, marcados por uma geração de puro permissivismo, se mostram preocupados em realizar o ideal de Monsieur Quine. Ser sim à verdade e ao bem. Não ao erro e à mentira” ( D. Lucas Moreira Neves, 1995.)

Este assunto merece a nossa reflexão, como pais e educadores que somos, responsáveis pela formação de nossos e filhos e alunos.

 

Maio - 2004

Prof. Dr. Marcos de Afonso Marins