A comunidade deve estar inserida na escola
Em 1970 quando lecionávamos no ensino fundamental e médio na escola estadual, já era a nossa preocupação a falta de interesse dos pais para com o acompanhamento da aprendizagem de seus filhos.
Criamos um logotipo para estimular a participação da comunidade na escola e um departamento de Integração Comunidade Escola – DICE, ligado à Associação de Pais e Mestres.
A integração da Comunidade-Escola está expressa no logotipo acima que tem o seguinte significado: A letra C em tamanho grande, como início da palavra comunidade contém inserido no seu interior a palavra Escola, isto para mostrar que a escola deve estar inserida dentro da comunidade e vice versa. O sinal de igual ligando a palavra comunidade e Escola tenta mostrar a igualdade de interesses que deve haver entre a Escola e a Comunidade. O sinal de igual colocado verticalmente mostra que a formação do educando só poderá ser feita desde o seu início (1a. série do ensino fundamental) até seu final, com auxílio da Comunidade na Escola.
A nossa obrigação como pais é dar educação e formação geral aos nossos filhos. Não nos esqueçamos que a única coisa que ninguém rouba é o conhecimento que adquirimos em casa e na escola, através da formação que recebemos de nossos pais e professores. Para que isso seja possível temos que nos conscientizarmos que educar os filhos dá muito trabalho, pois temos que nos policiar em nossas atitudes, não ter preguiça e ter a paciência de explicar tudo para os filhos, principalmente quando contrariamos os seus desejos.
A educadora Lisandre Maria Castello Branco da Universidade de São Paulo, (Professora da disciplina Análises Psicológicas do Cotidiano Escolar), fez várias colocações sobre a “nova família” e a escola, em entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo” de 01/08/94, que merecem a nossa atenção.
“As duas instituições (família e escola) estão perdidas e vão mal”.
“Pais “modernos” demonstram que não compreenderam a transição dos padrões familiares e radicalizam ao abolir toda forma de autoridade, como uma maneira de compensar o modelo de educação adotado por seus pais”. “O grande problema é que eles (os pais) não entenderam que a nova família pode conviver muito bem com os aspectos positivos do sistema tradicional de educação, onde as regras eram delimitadas. Enxergam só os aspectos negativos e a conseqüência disso é que nunca sabem se estão certos ou errados. Na realidade, as famílias modernas estão inventando moda. Pais nunca são iguais a filhos e isso precisa ficar claro. Com isso, a relação entre eles jamais será horizontal. Quando isso ocorre, ou seja, quando fica vago o lugar de autoridade, esse jovem fica abandonado, órfão. Um filho está sempre esperando dos pais a responsabilidade adulta de quem optou por educar uma pessoa. Muitos casais acham simpático tratar seus filhos como coleguinhas. Acham moderno, um avanço, só que isso é dramático. Desse jeito o filho não terá condições de se organizar. Como ele vai aprender regras se a existência da vida social é paga com tributo representado, muitas vezes, pelo sacrifício da própria individualidade ? O modelo autoritário e hierárquico foi substituído por um modelo permissivo, onde os papéis e funções sociais são flexíveis. Abandonaram os pontos positivos do antigo sistema em nome do modernidade”.
Quanto às escolas, ela continua : “Ao mesmo tempo, estão mais preocupadas em instruir e não em educar. Querem cumprir o currículo e pronto. O dilema muitas vezes está na postura de alguns pais que não querem se envolver, por exemplo, com a lição de casa de seus filhos. Antes, a indisciplina era punida. Hoje as pessoas ficam receosas até para impedir que uma criança coma ou faça lições na frente de uma televisão. A escola lida mal com isso porque ainda não encontrou um caminho. É necessário repensar essa nova família. Caso contrário, a escola se transformará em mais uma via de acesso para complicar o processo de socialização da criança”.
As ponderações acima, feitas pela educadora da USP, merecem a nossa reflexão e discussão, principalmente entre os pais e professores, pois o que queremos é o melhor para nossos filhos e alunos. Desejamos que nossos filhos e nossos jovens, sejam pessoas humanas bem formadas e integradas na sociedade, para serem agentes multiplicadores do saber humano e de valores dignos da pessoa humana.
A comunidade estando inserida na escola, todos esses problemas de educação na família e na escola, podem ser discutidos no âmbito escolar, com a presença dos pais e professores. Os pais têm de se interessar pela educação de seus filhos, comparecendo em todas as reuniões de pais e mestres da escola de seu filho e procurar colaborar com a escola, para sua melhor educação. Sabemos que o conhecimento em geral e a formação é a única salvaguarda garantida para o futuro de nossos filhos.
Julho/2004
Prof. Dr. Marcos de Afonso Marins